Gergin Ginecologia

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terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Informe sobre Suspensão do dispositivo Essure

Pessoal, 

Passando para um informe. Ontem no final do dia a ANVISA publicou esta nota, avisando a todos da retirada do dispositivo Essure do mercado. 


Desde sua liberação aqui no Brasil, eu sou uma das médicas ginecologistas especialistas em histeroscopia (técnica pela qual este dispositivo é colocado) mais entusiasmadas com o método. Desde a primeira vez que li um estudo sobre ele, me interessei e corri atrás de aprender mais sempre me baseando em estudos científicos de qualidade sobre o tema. 

Sempre vi muitas pacientes que haviam feito laqueadura convencional queixarem de sangramento irregular, mesmo esse sintoma nunca tendo sido comprovado como relacionado a laqueadura em estudos científicos. A laqueadura histeroscópica poderia ser a solução para isso. 

Também me encantou a possibilidade de uma laqueadura minimamente invasiva e de rápida recuperação, já que a maioria das mulheres que optam por método definitivo têm filhos e ficar de repouso pós cirúrgico é complicado. 

Realizei meu treinamento da técnica em um renomado Serviço médico da Espanha, contei sobre isso aqui. E por toda essa minha história hoje muitos colegas ginecologistas estão me escrevendo, perguntando minha opinião sobre essa suspensão. Por isso, achei importante escrever algo aqui. 

Primeiro, não tenho nenhum conflito de interesse com a empresa fabricante nem fornecedora. 
É importante que isso fique claro. 

Como funcionam os processos? Qualquer medicamento, dispositivo, material cirúrgico, etc...antes de ser liberado para uso ou prescrição médica é avaliado por órgãos competentes, no Brasil este órgão é a ANVISA. Estudos continuam sendo feitos com esses produtos após serem liberados, para acompanhar essas pacientes e entender melhor como eles agem, porque a qualquer nova situação, o posicionamento pode ser mudado.

O produto foi liberado pela Anvisa anos atrás e vem sendo utilizado e resolvendo a vida de muitas mulheres, muitas famílias no Brasil tanto no meio privado quanto no meio público. Muitos multirões pelo Brasil aconteceram e diminuíram as filas de espera para uma laqueadura convencional.

Ano passado, todos os ginecologistas receberam da empresa fabricante uma carta que falava sobre casos que estavam sendo investigados em outros países de mulheres que estavam apresentando alguns sintomas que poderiam ou não ser relacionados ao dispositivo. Sugerindo que entrássemos em contato com nossas pacientes e notificássemos qualquer sintoma. 
Entramos em contato com nossas pacientes, para avaliar se estava tudo bem e mantê-las informadas. 



Agora com esse posicionamento da ANVISA, baseado em novos estudos, cabe a nós ginecologistas suspendermos procedimentos futuros. Conversar com nossas pacientes que já fizeram o procedimento, especialmente para tranquilizá-las e nos colocarmos a disposição de qualquer questionamento ou queixa. 


Esse tipo de supensão, reavaliação pode acontecer a qualquer dispositivo, medicação ou produto médico a qualquer tempo. Que bom que os órgãos responsáveis estão fazendo seu trabalho. Porque o nosso trabalho como médicos depende disso. 

Segurança sempre em primeiro lugar!!!

A medicina, o cuidado com o ser humano está longe de ser uma ciência exata, apesar de exigir precisão todo o tempo. Esse é nosso desafio diário. 

Faz parte da nossa profissão, especialmente quando trabalhamos em grandes centros e queremos oferecer o que há de mais novo e mais moderno para nossos pacientes, que tenhamos que reavaliar condutas, tratamentos de tempos em tempos. Isso acontece o tempo todo. Por isso estudamos tanto diariamente, estamos sempre indo a congressos, conversando com colegas, trocando informações e experiências. Porque a medicina muda todo dia, novas tecnologias são descobertas, novos mecanismos do corpo humano são descobertos e fazem toda uma lógica para uma determinada doença mudar. Todo médico que se mantém atualizado vê coisas assim acontecerem algumas vezes ao longo da vida médica. Quem lê artigos científicos e vai a congressos está habituado a ver em conclusões de textos e apresentações a seguinte frase: "precisamos mais estudos sobre isso". E este é um desses casos, precisamos mais estudos. 

Então, agora é nos mantermos atentos, aguardar novos posicionamentos dos órgãos competentes, também dos serviços que publicam sobre o tema e acolher nossas pacientes de forma sincera.  

Parte muito importante do trabalho de um médico é saber gerenciar possíveis complicações relacionadas as doenças que trata e aos tratamentos que propõe, com conhecimento técnico, calma e respeito a paciente. 

Felizmente eu não tive nenhuma complicação relacionada a esta técnica até o momento, mas se tiver, cuidarei da paciente da melhor maneira possível. Esse é meu trabalho. 

E em maio haverá o Congresso Mundial de Histeroscopia, em Barcelona, pretendo estar lá e com certeza esse assunto será abordado. Contarei tudo aqui. 

Abraços
Bárbara

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